sábado, 2 de abril de 2011

Especialização Precoce: danos causados às crianças.

Oi, gente! Resolvi colocar um assunto bem interessante e polêmico.
Espero que gostem
Beijos
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     O esporte vem ocupando um espaço cada vez maior na vida das pessoas, especialmente das crianças e dos jovens. A influência dos eventos esportivos divulgados com grande freqüência pelos meios de comunicação, a identificação com ídolos, a pressão dos pais e dos amigos e a esperança de obter sucesso e status fazem com que um número crescente de crianças inicie sua prática cada vez mais cedo. 95% dos pais estão a favor da prática esportiva de seus filhos.

     A iniciação esportiva e seus treinamentos são muito mais freqüentes do que se pensa, basicamente por se a criança influenciável e por sua elasticidade e dependência dos adultos. O adiantamento da idade de máximo rendimento, principalmente em determinados esportes, motiva federações, clubes e treinadores a iniciar este processo dirigido ao alto rendimento cada vez mais precoce. A busca do êxito e vitórias (medalhas) a qualquer preço. Geralmente são os pais que buscam uma compreensão, por meio dos filhos, das vitórias e títulos esportivos não conseguidos por eles mesmos, estimulando a iniciação prematura nos esportes, sendo que nenhum deles se ajusta aos interesses e necessidades reais das crianças.


     A maioria dos pediatras consideram a prática esportiva infantil positiva, entretanto, essa aceitação se dá para crianças a partir de 7 anos de idade. A prática excessiva contribui para a degeneração hipocinética. É uma doença caracterizada pela diminuição da capacidade funcional de vários órgãos e sistemas, levando a carência relativa de movimentos. Esta doença, somente afetava aos adultos; o que se relaciona também que hoje, com um mundo civilizado, as crianças são liberadas de esforços físicos, o que dá cada vez menos espaço a estímulos naturais aos jogos infantis. A prática esportiva leva a melhora da saúde de forma geral, como prevenção de doenças cardiovasculares. O esporte fomenta na criança e no adolescente a maturidade, o crescimento e o desenvolvimento. Perigoso só é o esporte de alto rendimento específico realizado na idade infantil.

     Por parte dos psicólogos, as razões utilizadas aos benefícios das atividades físico-desportivas são elementos preventivos e terapêuticos na ansiedade, no estresse e na depressão, produz efeitos sobre a cognição, a afetividade e a agressividade. Já para fisioterapeutas e profissionais da educação física, as razões são os desenvolvimentos motores, capacidade física e condições biológicas.

     A iniciação esportiva implica um aprendizado e posterior treinamento progressivo, direcionado a melhorar e depois aperfeiçoar os diferentes aspectos orgânicos, funcionais, técnicos e táticos necessários ao ótimo rendimento no esporte escolhido. Já a iniciação esportiva precoce é a atividade esportiva desenvolvida antes da puberdade e caracterizada por uma alta dedicação aos treinamentos e principalmente por ter uma finalidade eminentemente competitiva. Outro sistema de iniciação bem próximo, é quando a criança se introduz a um processo de treinamento planejado e organizado a longo prazo, visando o gradual aumento do rendimento, este é chamado de treinamento especializado precoce. O sistema esportivo infantil, basicamente competitivo, é um sistema adaptado do modelo adulto.


     Para alguns dirigentes, treinadores e monitores esportivos, geralmente pessoas sem formação universitária, esta prática é justificada e não existe nenhum inconveniente em iniciar a criança precocemente nos treinamentos e competições esportivas a nível federado. Entretanto, para pessoas com formação acadêmica, esta iniciação é um atentado contra a criança e mais amplamente contra toda a infância que deveria estar proibido ou no mínimo regulamentado: número máximo de horas de treinamento, por exemplo. Assim como a intensidade e os objetivos, e na formação e qualidade do ensino da pessoa responsável.

     Problemas físicos, psicológicos e de integração são apresentados tanto ao longo do treinamento esportivo precoce, como na iniciação esportiva precoce. Patologias em praticantes de diversas modalidades esportivas como, halterofilismo, remo, natação e outros; todos estes atletas quando crianças haviam sido submetidos às estas práticas. Pediatras afirmam: não é conveniente a prática esportiva competitiva antes do final da puberdade.

     A prática esportiva competitiva precoce pode ocasionar riscos à saúde corporal das crianças. Os riscos de tipo físico são: problemas ósseos, articulares, musculares e cardíacos; esportes tecnicamente mais complexos que empregam um grande número de repetições de gestos técnicos, visando à automatização e aperfeiçoamento do movimento. O grande problema desse tipo de risco reside no impacto e na similitude dos gestos, principalmente se nos referimos a crianças em pleno processo de desenvolvimento. É importante lembrar que a criança não é um adulto (atleta) em miniatura, e que o professor ou treinador, além de sua tarefa técnica, deve ter responsabilidade pedagógica com futuro do jovem.

     Há também o risco de tipo psicológico, no qual se relaciona com a conduta e o estado mental do indivíduo. Crianças que exercem competições têm níveis anormalmente altos de ansiedade, estresse e frustração; são conhecidos como talentos esportivos com futuro promissor, mas se sentem martirizados internamente por fracassos e desilusões resultantes de maus resultados em competições. É chamada infância não vivida, por culpa de treinamentos de alta dedicação, o que pode provocar uma formação escolar deficiente, menos entrosamento com o grupo escolar, onde a criança esportista participa menos das brincadeiras e jogos do mundo infantil, atividades estas que são indispensáveis ao pleno desenvolvimento de sua personalidade.

     Outro risco que é citado é o risco de tipo motriz. O treinamento esportivo precoce busca o rendimento em um aspecto concreto da execução motriz, no modelo competitivo, ignorando geralmente os outros importantes objetivos educacionais que o esporte pode oferecer, é chamada de pobreza motriz. Isso causa impossibilidade da prática futura de um esporte diferente. É normal observarmos atletas com automatismos motores extremamente rígidos, o que lhe impede de executar movimentos novos e diversificados.

     O último risco é o risco esportivo. É muito difícil conhecer com exatidão as características do futuro atleta quando este é muito pequeno. A criança treinada pode não ter mínimas condições futuras no esporte que lhe é especializado. Títulos durante a infância não é garantia de sucesso esportivo quando o atleta se torna adulto.

     Para evitar tais riscos vistos a cima, é importante citar: a formação e atuação do professor, os meios e objetivos propostos, a faixa etária das crianças, o tipo de competição, participação da família, etc. É recomendado para um treinamento adequado para crianças priorizar atividades aeróbicas e em grupo, evitar cargas elevadas e aumentar trabalho de flexibilidade para que não danifiquem articulações, ossos e músculos, escolher movimentos variados e habilidades naturais ao invés de gestos técnicos e exercícios elaborados, valorizar o aspecto lúdico das atividades e ter em mente a limitação do processamento de informação nas crianças.

     Ensinar esporte às crianças é muito mais do que apenas repetir treinamentos de pessoas adultas, é contribuir para sua formação integral: suas habilidades motoras, desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social. Construindo autonomia, adquirindo segurança, se integrando socialmente, para que ela possa incorporar uma cultura de lazer com o esporte e que possa usá-lo na sua vida e se tornar uma pessoa mais saudável.


"(...) se o (a) professor (a) se render ao discurso de que apenas a vitória é construtiva,
o esporte cumprirá a infeliz tarefa de conservar essa estupidez".
Wilton Carlos de Santana